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Startups no Brasil

Startups no Brasil

capital-sementeO que falta no ecossistema brasileiro para que ele amadureça e favoreça a afloração e consolidação dessas empresas.

Startups já são realidade no Brasil há mais de uma década, mas o ecossistema frutífero, capaz de estimular o nascimento e desenvolvimento de empresas nascentes de sucesso, ainda carece de amadurecimento , no país. Em um ambiente empreendedor no setor tecnológico, o tempo possui um ritmo excepcional. Um período de dez anos pode representar um histórico de nascimento, desenvolvimento e consolidação – ou morte – de uma empresa inovadora. O mercado nacional precisa acompanhar este ritmo. Se o Brasil pretende ser uma das maiores economias do mundo, faz-se necessária a evolução local da economia do conhecimento, o que inclui as startups de tecnologia. O mercado brasileiro ainda precisa amadurecer, e rápido, para este modelo dar certo no país.

A cadeia que estrutura a possibilidade deste modelo, com investidores anjo, empresas de capital de risco e mecanismos de saída, ainda está em fase incipiente. As legislações brasileiras, da trabalhista à tributária, um pesadelo para qualquer grande empresa, são grandes limitadores para as startups, que se desenvolvem de forma muito dinâmica e veloz e precisam de um marco regulatório que acompanhe essa realidade acelerada. A cultura brasileira, que não cria empreendedores para conjugar os verbos competir e inovar, e que também carece do espírito colaborativo, essencial para troca de conhecimento e evolução, desaceleram ainda mais o processo.

Como oobjetivo de toda startup é ser vendida, o Brasil necessita desenvolver uma cultura que estimule o empreendedorismo, desenvolva o espírito de competitividade e ofereça alternativas que tragam liquidez aos investidores não somente no início, mas também no momento da saída futura, como explica Gustavo Caetano, Presidente da Associação Brasileira de Startups (ABstartups): “O que faz com que esse mercado fique maduro são as aquisições ou os IPOs. IPO, no Brasil é muito complicado, não é uma proposta factível para a maioria das startups. Então, é necessário se ter uma saída pois, se você não tem saída, o Anjo não vai querer investir, as empresas de Venture Capitals não vão querer investir. Acho que essa é a grande chave para esse mercado se desenvolver no Brasil,” afirma Caetano.

Ecossistema favorável

Uma pesquisa da Fundação Dom Cabral, publicada em junho, revelou que as empresas startups de alto-impacto tendem a aumentar suas chances de sucesso quando inseridas em um ecossistema empreendedor, que estimula o desenvolvimento empresarial e a inovação. No Brasil, algumas cidades já são destaque na formação desse ecossistema com incubadoras, aceleradoras, investidoras, além de eventos e associações com treinamentos, incluindo envolvimento de universidades. A cidade de São Paulo foi a única brasileira incluída em uma lista do Relatório de Ecossistemas de Startups (Startup Ecosystem Report 2012), do Startup Genome, como um dos 20 ecossistemas favoráveis para criação de startups no mundo, ficando atrás somente de regiões como o Vale do Silício, Los Angeles, Seattle, Nova Iorque, Boston e Chicago, nos EUA, Tel Aviv, em Israel, além de Londres, na Inglaterra, Toronto e Vancouver, no Canadá, Paris, na França, e Sidnei, na Austrália. Contudo, o estudo aponta que a capital paulista ainda carece de financiamento e de uma maior ambição por parte dos empreendedores.

À parte às duas carências paulistanas, a realidade no vasto território nacional é bastante distinta, mas as carências são bem similares. Para se obter sucesso com uma startup e atingir a saída, várias são as fases que a empresa precisa experimentar. Após as fases de concepção da ideia, e da construção do protótipo do produto com seu consequente lançamento, o aporte de capital é fundamental para que o crescimento e adequação no mercado sejam desenvolvidos de forma sustentável. Mas nada disso acontece se não tivermos indivíduos com espírito empreendedor.

Cultura empreendedora

Apesar de o Brasil ter um cenário promissor para que esse ciclo seja consolidado, estamos ainda no início do desenvolvimento de um ecossistema que realmente favoreça não somente o nascimento, mas o desenvolvimento e floração de um grande número de startups. A começar pela cultura de empreendedorismo ou sua quase total ausência.

De acordo com um estudo da Fundação Dom Cabral (FDC), intitulado “O Ecossistema Empreendedor Brasileiro de Startups”, publicado no mês passado, um candidato a empreendedor analisa os aspectos subjetivos de relacionamentos, ou seja, o que sua comunidade recrimina e o que é considerado motivo de reconhecimento entre seus pares, antes de decidir tomar o caminho de criar o próprio negócio. Como a cultura brasileira demoniza o fracasso, o medo seria então, um fator limitador ao empreendedorismo. “No Brasil temos medo de falha, não somente por conta da questão cultural, mas também estrutural, pois a falha pode te perseguir para o resto da vida, então as pessoas pensam mil vezes em abrir uma empresa”, ressalta o Presidente da ABStartups. Esse medo tem eco em dados recentes que dão conta de que, no Brasil, quando uma empresa entra no negativo e assume dívidas para sua recuperação, declarando falência, a previsão é de que sejam recuperados apenas 15,9% do total do patrimônio uma vez comprometido.

Outros fatores, afirma o estudo da FDC, como a capacitação de empreendedores e a consolidação de um ambiente que reconheça a atividade empreendedora como uma alternativa ao emprego estável, são elementos do ecossistema que também estão aquém de seus potenciais no Brasil. Apesar da valorização social de empreendedores de sucesso, o risco associado ao ato de empreender é ainda considerado como algo que deva ser evitado a qualquer custo, assegura a análise da FDC.

Mas este cenário pode estar mudando, mesmo que lentamente. Segundo a última pesquisa do Global Entrepreneurship Monitor (GEM) de 2012, a taxa de empreendedorismo da população adulta brasileira atualmente é de 30,2%, contra 20% de dez anos atrás, o que sinaliza uma mudança da cultura de busca por emprego, para busca do negócio próprio. Além disso, um dado importante na pesquisa revela que, atualmente, 69,2% dos empreendimentos no Brasil são criados por oportunidade, e não mais por necessidade. Em 2002, esse índice era de 42%.

Investimentos

Todavia, apenas ter uma ideia inovadora e espírito empreendedor, não basta. Para se desenvolver, a startup precisa de aporte de capital, e é nesse momento que entram os investidores, quer sejam de empresas de Venture Capital – ou Capital de Risco – ou de empresários dispostos a investir tempo, e pouco dinheiro, chamados investidores anjo.

Entre o desafio das leis tributárias e omodelo regulatório, o Brasil não parece acompanhar o movimento empreendedor, mesmo que acanhado, na mesma velocidade em que este se desenha. Os órgãos regulamentadores não têm conseguido implementar, em nível nacional, mudanças que simplifiquem o processo de apoio e criação de novas empresas, assim como eliminar procedimentos burocráticos para a atividade empresarial em geral. “Na Samba Tech, tínhamos dificuldades em saber quais impostos tínhamos que pagar, pois vendemos produtos virtuais. Então, lá em 2007, era difícil saber. Tudo isso faz com que fiquemos menos competitivos”, revela Gustavo Caetano, mencionando a startup de gestão e distribuição profissional de vídeos para empresas, que ele fundou em 2007.

Apesar dos obstáculos, atualmente já existem uma série de veículos de investimentos e de programas como o Startup Brasil, na outra ponta dessa cadeia, para aumentar a base dessa pirâmide, ou seja, para permitir que um número maior de empresas consiga deslanchar. Como a vida dessas empresas nascentes é complicada por conta delas serem muito dinâmicas, muito velozes, para os mercados onde se encontram, nesse panorama, os Governos têm a função de facilitar sua manifestação: “Sem dúvida nenhuma tem que haver políticas fiscais para incentivar o surgimento e a afloração de empresas nascentes, porque ninguém nasce grande, se constrói. O programa Startup Brasil é um grande passo nessa direção,” analisa Robert Jansen, CEO da Outsource Brazil.

O Startup Brasil é um programa criado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) para apoiar as startups através de mentoria e investimento. “O foco do Startup Brasil é de ajudar as startups em um momento inicial. O programa tem recursos para investir em até 100 startups neste ano e, nos próximos anos, nós pretendemos continuar e, possivelmente, ampliar esse número,” explica Felipe Matos, COO do Startup Brasil.

Como os fundos de investimentos estrangeiros miram em startups mais maduras, pra reduzir os riscos da operação, as startups acabam dependendo de investimentos nacionais. Já o perfil do investidor privado no Brasil é tão inexperiente quanto o mercado em que deseja atuar, e com tanto ou mais medo que o próprio empreendedor, em arriscar: “Uma empresa que faz a mesma coisa que a gente, e está localizada em Boston, nos EUA, chamada BrightCove levantou U$ 100 milhões de capital, a Samba Tech levantou U$ 5 milhões”, revela Caetano.

Mecanismos de saída

Quando arrisca, o investidor tem um tempo de cerca de 8 a 10 anos para sair: “Ele não quer se perpetuar na empresa. Se ele colocou esse dinheiro e ele não retornou, ele desiste de investir, e isso desestimula a indústria inteira. Para as startups ficarem mais maduras é preciso que o ecossistema inteiro fique mais maduro. Se as pessoas não tiverem retorno é melhor deixar o dinheiro no banco”, explica Caetano.

Desde 2005, no Brasil, contamos cerca de cinco startups que tiveram saída, e estas estão concentradas nas startups de e-commerce, começando pelo Buscapé. E, além de as saídas brasileiras estarem concentradas em aquisições, o número destas é ainda muito insignificante, e uma das razões para o vácuo pode estar, novamente, ligada à cultura do país: “A maioria das empresas vê o que é feito por uma startup e acha que pode copiar internamente. O que as empresas americanas viram é que , quando ela compra, ela sabe que não está comprando o produto, ela está comprando as pessoas, a tecnologia, e está oxigenando o seu próprio negócio. Se você pegar Google ou Microsoft, por exemplo, que compram quase que uma empresa por mês no mundo todo, o que eles estão fazendo é trazer pessoas novas, ideias novas, pensamentos novos, para dentro da empresa”, pontua Gustavo.

Contudo, já existem alguns poucos exemplos de empresas brasileiras que entenderam a vantagem de adquirir uma startup. O Grupo RBS, que concentra seus investimentos em mídia digital, e-commerce segmentado e mobile, adquiriu no primeiro semestre deste ano, participação no site Wine, maior site de e-commerce de vinhos da América Latina. O investimento faz parte da estratégia da holding de trazer para seu portfólio marcas líderes de mercado, com modelos inovadores e gestão de excelência, e é uma aposta relevante em setores de alto crescimento no país, com ótimos empreendedores.

Competitividade internacional

O ciclo de um ecossistema favorável ao desenvolvimento de startups pode estar completo, mas se o objetivo é a aquisição e o mercado local ainda não dá conta da oferta, é preciso estar preparado para apresentar sua startup para investidores fora do país. Contudo, uma pesquisa sobre a “Maturidade Empresarial das Empresas Brasileiras Nascentes”, recentemente publicada pela Outsource Brazil, revelou que a maioria das startups, apesar de estarem amadurecendo, ainda precisam desenvolver muitos itens para se tornam maduras, principalmente no tocante à competitividade internacional. ”Quando analisamos isoladamente a maturidade empresarial das startups brasileiras elas até não aparecem muito mal. Mas essa maturidade empresarial tem como contexto o cenário de mercado brasileiro. E então, quando fazemos o referenciamento com o resultado da competitividade internacional, é aí que os resultados são insatisfatórios,” afirma Robert Jansen, CEO da Outsource.

De acordo com Jansen, uma das razões ao lento amadurecimento para competir internacionalmente das startups brasileiras se deve àmentalidade empresarial brasileira, que estaria calibrada para o mercado local, que demanda que o empresário principalmente conjugue o verbo “articular”, e ignore o verbo “competir”. “Ele articula relacionamentos, quer sejam políticos, institucionais, e outros, que ele utiliza para poder avançar no seu desempenho empresarial. E quando ele vai para um cenário internacional – americano ou europeu – o principal verbo nesses mercados não é articular, e sim competir, que é sinônimo de inovar. Então é aí que as startups brasileiras precisam entender e vivenciar que, enquanto elas estiverem tentando ser mais competitivas, mas ainda subjugadas ao ambiente empresarial brasileiro, elas não são impregnadas com este DNA competir, elas continuam impregnadas com o DNA articular. Mas isso é um processo”, assegura Jansen.

Filipe Mattos, que hoje preside a Startup Brasil, mas que já esteve no ambiente privado, tendo desenvolvido startups desde os 14 anos de idade, também está otimista quanto ao desenvolvimento das startups brasileiras de forma competitiva no cenário internacional: “Quem disse que não se pode lançar no Brasil uma empresa que tenha potencial global – ninguém! Estamos dentro de dois, três anos, onde vamos ter alguns ícones que vão começar a se destacar no cenário mundial, e basta ter estes exemplos, mantendo obviamente políticas públicas adequadas, que então você começa a criar esta cultura e aí, começa a criar mais parrudez, começa a desenvolver mais empresas que vão seguir o mesmo caminho”, assegura Mattos.

Startup SC

A iniciativa Startup SC é idealizada pelo Sebrae/SC com o objetivo de fomentar o empreendedorismo e inovação no estado de Santa Catarina.